_obras
_Ausente (2023) (Avenida Paulista)
Performance ocorre em por 7h seguidas. De maneira sistemática, mantendo gestos e movimentos repetitivos, são quebrados em torno de 800 tijolos. Materiais: 800 tijolos (por performance), bancada de madeira, marreta e sirene eletromecânica. A sirene é disparada por 4 vezes, ao começo e final do processo de Performance, além de duas vezes marcando o inicio e fim do horário de “almoço”. Durante esses momentos, a artista fica parado por 3 minutos sem realizar nenhum movimento, aguardando o fim do toque da sirene.
A performance ocorreu duas vezes, primeiro do dia 01-05-2023 e depois em 14-05-2023. Em ambas ocasiões o trabalho foi realizando na calçada em frente ao Sesc Avenida Paulista. O trabalho foi comissionado pelo SESC.
Para Saber mais:
Considerando todos os avanços tecnológicos da construção civil, e as mudanças nas formas e nas demandas das relações de trabalho, é ainda o corpo dos menos afortunados economicamente que levantam essa cidade, ao gasto de seu sangue e suor para uma sociedade que ainda depende da “mão de obra braçal” para se desenvolver estruturalmente. Me questiono o quanto negligenciamos essas histórias, de pessoas que conhecem de fato essa cidade com a palma das mãos?
A ação acontece no prédio do Sesc Paulista, um espaço de produção intelectual e cultural, presente no maior centro econômico, comercial e cultural do país, que determina muito da identidade da cidade, principalmente para os visitantes, já que para a grande massa de trabalhadores que ocupam diferentes funções de trabalho nessa região, a cidade é muito maior e distante dessa realidade, principalmente para os que habitam as regiões periféricas da cidade.
Pensando especificamente na sirene como elemento da ação, ela pode remeter a algo que talvez oferecer uma ideia quase anacrônica para as relações de trabalho na contemporaneidade, porém é um elemento que serve para resgatar no imaginário das pessoas que por ali passam, uma realidade que ainda existe e é presente na vida de muitos trabalhadores.
A ação realizada pelo artista serve em parte como uma emulação da situação real, a sirene, os tijolos, a marreta, o gesto de martelar, são elementos que fazem parte de uma realidade ordinária, porém aqui, resgatados em um território que por convenção é identificado como espaço de acontecimentos artísticos.
Tratando do gesto de martelar, executado durante a ação, o compreendo como uma tentativa de representar o gesto ou função exercida ordinariamente por um trabalhador, que de tão excessivamente repetitivo e fisicamente exaustivo, pode colocá-lo em um processo de alienação de sua própria consciência, exaurindo suas energias e o afastando de seus desejos, planos e construção de vida para além do trabalho.
O gesto de quebrar os tijolos e descarta-los em seguida rompe com uma lógica natural, trazendo o estranhamento como forma de romper com um fluxo de expectativa do observador. Sobre o que fala e para que serve um gesto que não constrói nada formal ou funcional, em uma sociedade que é regida por resultados?